Momento hegeliano II:

A luta de vida e morte está presente na apresentação do duplo agir da consciência-de-si: “o agir do Outro e o agir por meio de si mesmo49”. Quando se está focado no agir do Outro tende-se a morte do Outro. Por quê? Esta parte do texto me parece indecifrável, não me parece clara, pois aqui percebo uma fundamental noção que Hegel precisa passar para que a luta de vida e morte seja vista como o ponto onde o reconhecimento das consciências-de-si se dão. Mas não consegui acompanhar a argumentação Hegeliana, neste ponto. Minha intuição é que Hegel pretende demonstrar que com o agir do Outro, estamos como que colocando para fora o agir de si-mesmo, e por isso tendendo a morte do outro, ou seja, a morte de si-mesmo. Creio que, em sendo este movimento reflexivo, temos sustentação suficiente para justificar a afirmação de que:
Só mediante o pôr a vida em risco, a liberdade [se conquista]; e se prova que a essência da consciência-de-si
não é o ser, nem o modo imediato como ela surge, nem o seu submergir-se na expansão da vida; mas que nada há na consciência-de-si que não seja para ela momento evanescente; que ela é somente puro ser-para-si. […] a consciência-de-si deve intuir seu ser-Outro como puro ser para-si, ou como negação absoluta.50
Mais adiante no texto, no § 188, pode-se perceber com mais clareza o raciocínio que Hegel realiza. Fica clara a importância da morte para a concretização da consciência-de-si, pois apenas a morte, ou o desprezo à vida, pode causar na consciência-de-si a percepção que o outro é a própria-consciência-de-si refletida, uma vez que no jogo de trocas ficou sem sentido a decomposição da consciência em extremos opostos. O que ocorre neste ponto é a negação abstrata que suprassume os extremos.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses. Petrópolis, Editora Vozes, 2003. 551 p.
49 Ibid., § 187
50 Ibid., § 187

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